quarta-feira, 4 de setembro de 2013

ARTIGO


Professor e aluno – parceiros na aprendizagem
                                
              "A mente humana, uma vez ampliada por uma nova ideia, nunca mais volta ao seu tamanho original".
                                                        Oliver Wendell Holmes
               
      Vygotsky nos motiva :  como é importante a interação professor/aluno

               Vygotsky foi o primeiro psicólogo a seguir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa. Procurou construir uma “nova psicologia” com o objetivo de integrar numa mesma perspectiva o homem enquanto totalidade – corpo e mente, enquanto ser biológico e social, enquanto membro da espécie humana e participante de um processo histórico. Segundo La Taille, Marta Kohl e Heloysa Dantas  “ Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem”, porém , a cultura não é pensada por ele como estática, acabada a qual o indivíduo se submete, mas como um “palco de negociações” em que seus elementos estão sempre em processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados. Assim, segundo ele , ao  tomar posse do material  cultural, o indivíduo o torna seu, passando a utilizá-lo como instrumento pessoal de pensamento e ação no mundo.

                Ao interagir com esses conhecimentos, o ser humano se modifica, constrói-se como sujeito absolutamente único, com trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em sua relação com o mundo e com as outras pessoas.

                Assim, o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o nascimento da criança. Já muito antes de entrar na escola, a criança já construiu uma série de conhecimentos do mundo que a cerca e o aprendizado escolar vem a produzir algo novo no seu desenvolvimento. Para explicar o papel da escola no processo de formação do indivíduo, Vygotsky faz uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana do educando, que ele chamou de conceitos cotidianos e aqueles elaborados pela humanidade e passados  pela escola, que ele chamou  de conceitos científicos. Apesar de diferentes, eles estão relacionados e se influenciam mutuamente, pois fazem parte de um mesmo processo que é o desenvolvimento da formação de conceitos.

                Para Vygotsky um conceito não é aprendido por meio de um treinamento mecânico, nem tão pouco pode ser meramente transmitido pelo professor ao aluno. Ele afirma que se o ambiente não desafiar, questionar, exigir, estimular o intelecto do educando, esse processo de “construção mental” poderá se atrasar e com isso, os mesmos não conseguirão chegar a conquistar estágios mais elevados do raciocínio.

                A escola para Vygotsky deve levar o aluno a pensar, deve fortalecer novas formas de acesso e apropriação da experiência culturalmente acumulada, a fim de que possa se utilizar dele em todas as situações do mundo de forma autônoma e consciente.

                Para ele, o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Ensinar  o que o aluno já sabe ou aquilo que está totalmente longe de sua possibilidade de aprender, torna-se ineficaz e vazio. Desse modo, a escola cumprirá o seu papel a partir do momento que partir daquilo que o educando já sabe, suas “teorias” acerca do que percebe do mundo e for capaz de ampliar e desafiar a construção de novos conhecimentos. O professor , nesse contexto, deixa de ser visto como agente exclusivo do domínio do saber, perde o controle absoluto, de quem sabe tudo, para se tornar  um pesquisador em constante interação com seus alunos. Ele é o mediador das interações entre os alunos e dos mesmos com o objeto do conhecimento. Sua intervenção nas “zonas de desenvolvimento” dos alunos é de vital importância, porque é o parceiro que teve mais acesso ao patrimônio cultural elaborado pelos homens, logo ele pode e deve ser o articulador entre os “conhecimentos”.

                É preciso que o professor conheça o nível afetivo de seus alunos, suas descobertas, hipóteses, crenças, valores; enfim, suas “teorias” acerca do mundo para depois, intervir e estabelecer estratégias que permitam avanços e ampliação do conhecimento do grupo de alunos. No cotidiano, ele deve ter uma relação aberta ao diálogo e criar situações em que elas possam expressar aquilo que já sabem; deve estar disposto a ouvir, a anotar os anseios de seus destinatários.

                Como D. Bosco, o  Santo dos jovens e fundador da Congregação Salesiana, fazia no oratório com seus meninos, é  necessário que o educador supere a mesmice das ações cotidianas e se deixe sensibilizar e perceba, ele também, a arte presente no dia a dia e dê espaço para sua própria imaginação criadora para ousar em parceria com seus colegas e seus educandos e assim, povoar a imaginação deles com valores que gerem um espírito crítico e ao mesmo tempo lúdico com relação à Vida.  Se o educador não povoar o imaginário de seus alunos com valores, conceitos, histórias que o engrandeçam, este vai buscar preenchê-lo com os programas de TV, jogos de computador, filmes violentos,  banalidades expostas na internet e outras atividades que não levam a um engrandecimento como pessoa.

                Segundo Sônia Kramer, “Nada mais urgente que a escola se abrir para a expressão poética, a literatura, a música, a expressão plástica, para os jornais e as revistas, as cartas, para os relatos de experiência, despertando a afeição adormecida das crianças e dos professores, encantando-os  e atraindo-os com a criação de linguagem e com as infinitas possibilidades que estas lhes fornece de formular e transmitir pensamentos, sentimentos, projetos, ações.”

                Imaginação, sonho, fantasia, descoberta é o que se apresenta em qualquer experiência humana que não se limita a mera reprodução de fatos ou impressões vividas, mas que faz  uma leitura profunda, por detrás das letras, falas ou gestos e as combina de forma criativa produzindo novos objetos, novas imagens, novas ações. Segundo Vygotsky “tudo o que nos rodeia e que foi criado pela mão do homem, todo o mundo da cultura, diferentemente do mundo da natureza, tudo isso é produto da imaginação e da criação humana... em tudo o que ultrapassa a rotina repetitiva, existe uma ínfima partícula de novidade e de processo criador humano, estando as bases da criação assentadas na faculdade de combinar o antigo e o novo”

                Vygotsky afirmava que a possibilidade de ser humano se encontra na arte ou na produção expressiva e negava em suas colocações a separação que em geral se faz entre imaginação e realidade. “Se toda a fantasia parte da experiência acumulada pelo homem, quanto mais variada é essa experiência, mais rica é a fantasia, pois pode a partir do vivido, criar novas combinações. Mais do que isso, ainda: a fantasia amplia a experiência e expande o homem para além do e se apóia na fantasia.”

                Quando o professor povoa o seu imaginário e o de seus alunos com fantasias positivas que façam com que eles saboreiem  uma determinada situação, ambos crescem na experiência, pois partilham de emoções e opiniões.Assim como quando o professor traz para o universo de sala de aula reflexões sobre acontecimentos sociais, sobre as misérias e também injustiças que permeiam o mundo  e proporciona momentos de reflexão, discussão.  Todas essas ações em que o educando interage com o professor e com o universo que o rodeia, ele vai se construindo como pessoa, cidadadão e tomando posse de seu papel no mundo.

                Quando essas ações são proporcionadas desde a primeira infância e no decorrer de toda a sua formação;  constrói-se um ser pensante, que interpreta e produz linguagem.

                Viver a experiência da aprendizagem requer motivação, afetividade, troca de emoções. Quando o professor sente e compreende as reações, opiniões dos alunos, a experiência cresce e ambos crescem no relacionamento e no compromisso com a busca do conhecimento.  Compreender as reações, a fala de alguém não basta assim como não basta entender suas palavras, porque as palavras, as frases que dizemos possuem sempre um subtexto, um pensamento oculto por detrás delas, nem tampouco basta saber do seu pensamento; para compreender o outro é necessário conhecer a sua motivação. Como afirma Vygotsky “ A comunicação direta entre duas mentes é impossível, não só fisicamente como também psicologicamente. A comunicação só pode ocorrer de forma indireta... A compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem, só é possível quando entendemos sua base afetiva, volutiva.”

                Assim, muitas vezes em sala de aula, o aluno manifesta ao professor algo,  por meio de palavras ou atos, que muitas vezes é  o contrário daquilo que ele gostaria de manifestar. Quando se tem este clima de abertura, de afetividade entre professor e classe; o professor compreende a linguagem do aluno e o auxilia para que ele próprio faça o contato consigo mesmo e compreenda o porquê daquela reação.  Não é um caminho fácil, requer disponibilidade e humildade de ambas as partes, mas uma vez conquistado este entrosamento, ambos crescem em conhecimento e sabedoria. Conquista-se a confiança e a amizade de seus destinatários e assim interagem em um ambiente de alegria e busca.

                Hoje o imaginário de nossos alunos é muita vezes povoado de pensamentos e atitudes de violência, de prazer  passageiro, de relações efêmeras e valores materiais e virtuais; cabe , assim, ao professor, que também sofre as influências dessa cultura massificada, ousar vencê-las, ter as chaves que possibilitam a abertura para outras possibilidades de crescimento, com propostas enraizadas em valores humanitários, justos que busquem uma sociedade digna para todos.

                Para finalizar, outra contribuição emerge ainda das análises dos trabalhos de Vygotsky “a criança não é um adulto incompleto, não é um pedaço inacabado de uma sequência de etapas. Ela é sujeito social e histórico hoje, desenvolvendo-se sim, mas alguém real, cidadã, pessoa, gente. Por outro lado, o adulto, o professor que com ela trabalha – não é um ser estático, que já evoluiu e hoje está completo. Ele se constrói, cresce, muda.” Neste contexto, ambos , em parceria, podem contribuir para o crescimento do outro e da sociedade em que vivem.

Referências

KRAMER, Sonia. Por entre as pedras: Arma e Sonho na escola – São Paulo: Ática, 1993.

TAILLE, Yves de La, OLIVEIRA, Marta Kohl de, DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão - São Paulo: Summus editora, 1992.

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