"A mente humana, uma vez ampliada por uma nova ideia, nunca mais volta ao seu tamanho original".
Oliver Wendell Holmes
Vygotsky nos motiva : como é importante a interação professor/aluno
Vygotsky foi o primeiro psicólogo a seguir os
mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa.
Procurou construir uma “nova psicologia” com o objetivo de integrar numa mesma
perspectiva o homem enquanto totalidade – corpo e mente, enquanto ser biológico
e social, enquanto membro da espécie humana e participante de um processo
histórico. Segundo La Taille, Marta Kohl e Heloysa Dantas “ Vygotsky tem como um de seus pressupostos
básicos a ideia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação
com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo
histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o
funcionamento psicológico do homem”, porém , a cultura não é pensada por ele
como estática, acabada a qual o indivíduo se submete, mas como um “palco de
negociações” em que seus elementos estão sempre em processo de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significados. Assim, segundo ele ,
ao tomar posse do material cultural, o indivíduo o torna seu, passando a
utilizá-lo como instrumento pessoal de pensamento e ação no mundo.
Ao interagir com esses
conhecimentos, o ser humano se modifica, constrói-se como sujeito absolutamente
único, com trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em sua
relação com o mundo e com as outras pessoas.
Assim, o desenvolvimento e a
aprendizagem estão inter-relacionados desde o nascimento da criança. Já muito antes
de entrar na escola, a criança já construiu uma série de conhecimentos do mundo
que a cerca e o aprendizado escolar vem a produzir algo novo no seu desenvolvimento.
Para explicar o papel da escola no processo de formação do indivíduo, Vygotsky
faz uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência
pessoal, concreta e cotidiana do educando, que ele chamou de conceitos
cotidianos e aqueles elaborados pela humanidade e passados pela escola, que ele chamou de conceitos científicos. Apesar de
diferentes, eles estão relacionados e se influenciam mutuamente, pois fazem
parte de um mesmo processo que é o desenvolvimento da formação de conceitos.
Para Vygotsky um conceito não é
aprendido por meio de um treinamento mecânico, nem tão pouco pode ser meramente
transmitido pelo professor ao aluno. Ele afirma que se o ambiente não desafiar,
questionar, exigir, estimular o intelecto do educando, esse processo de “construção
mental” poderá se atrasar e com isso, os mesmos não conseguirão chegar a
conquistar estágios mais elevados do raciocínio.
A escola para Vygotsky deve
levar o aluno a pensar, deve fortalecer novas formas de acesso e apropriação da
experiência culturalmente acumulada, a fim de que possa se utilizar dele em
todas as situações do mundo de forma autônoma e consciente.
Para ele, o bom ensino é aquele
que se adianta ao desenvolvimento. Ensinar
o que o aluno já sabe ou aquilo que está totalmente longe de sua
possibilidade de aprender, torna-se ineficaz e vazio. Desse modo, a escola
cumprirá o seu papel a partir do momento que partir daquilo que o educando já
sabe, suas “teorias” acerca do que percebe do mundo e for capaz de ampliar e
desafiar a construção de novos conhecimentos. O professor , nesse contexto,
deixa de ser visto como agente exclusivo do domínio do saber, perde o controle
absoluto, de quem sabe tudo, para se tornar
um pesquisador em constante interação com seus alunos. Ele é o mediador
das interações entre os alunos e dos mesmos com o objeto do conhecimento. Sua
intervenção nas “zonas de desenvolvimento” dos alunos é de vital importância,
porque é o parceiro que teve mais acesso ao patrimônio cultural elaborado pelos
homens, logo ele pode e deve ser o articulador entre os “conhecimentos”.
É preciso que o professor
conheça o nível afetivo de seus alunos, suas descobertas, hipóteses, crenças,
valores; enfim, suas “teorias” acerca do mundo para depois, intervir e
estabelecer estratégias que permitam avanços e ampliação do conhecimento do
grupo de alunos. No cotidiano, ele deve ter uma relação aberta ao diálogo e
criar situações em que elas possam expressar aquilo que já sabem; deve estar
disposto a ouvir, a anotar os anseios de seus destinatários.
Como D. Bosco, o Santo dos jovens e fundador da Congregação
Salesiana, fazia no oratório com seus meninos, é necessário que o educador supere a mesmice
das ações cotidianas e se deixe sensibilizar e perceba, ele também, a arte
presente no dia a dia e dê espaço para sua própria imaginação criadora para
ousar em parceria com seus colegas e seus educandos e assim, povoar a
imaginação deles com valores que gerem um espírito crítico e ao mesmo tempo
lúdico com relação à Vida. Se o educador
não povoar o imaginário de seus alunos com valores, conceitos, histórias que o
engrandeçam, este vai buscar preenchê-lo com os programas de TV, jogos de
computador, filmes violentos, banalidades
expostas na internet e outras atividades que não levam a um engrandecimento
como pessoa.
Segundo Sônia Kramer, “Nada mais
urgente que a escola se abrir para a expressão poética, a literatura, a música,
a expressão plástica, para os jornais e as revistas, as cartas, para os relatos
de experiência, despertando a afeição adormecida das crianças e dos professores,
encantando-os e atraindo-os com a
criação de linguagem e com as infinitas possibilidades que estas lhes fornece
de formular e transmitir pensamentos, sentimentos, projetos, ações.”
Imaginação, sonho, fantasia,
descoberta é o que se apresenta em qualquer experiência humana que não se
limita a mera reprodução de fatos ou impressões vividas, mas que faz uma leitura profunda, por detrás das letras,
falas ou gestos e as combina de forma criativa produzindo novos objetos, novas imagens,
novas ações. Segundo Vygotsky “tudo o que nos rodeia e que foi criado pela mão
do homem, todo o mundo da cultura, diferentemente do mundo da natureza, tudo
isso é produto da imaginação e da criação humana... em tudo o que ultrapassa a
rotina repetitiva, existe uma ínfima partícula de novidade e de processo
criador humano, estando as bases da criação assentadas na faculdade de combinar
o antigo e o novo”
Vygotsky afirmava que a
possibilidade de ser humano se encontra na arte ou na produção expressiva e
negava em suas colocações a separação que em geral se faz entre imaginação e
realidade. “Se toda a fantasia parte da experiência acumulada pelo homem,
quanto mais variada é essa experiência, mais rica é a fantasia, pois pode a
partir do vivido, criar novas combinações. Mais do que isso, ainda: a fantasia
amplia a experiência e expande o homem para além do e se apóia na fantasia.”
Quando o professor povoa o seu
imaginário e o de seus alunos com fantasias positivas que façam com que eles
saboreiem uma determinada situação,
ambos crescem na experiência, pois partilham de emoções e opiniões.Assim como
quando o professor traz para o universo de sala de aula reflexões sobre
acontecimentos sociais, sobre as misérias e também injustiças que permeiam o
mundo e proporciona momentos de
reflexão, discussão. Todas essas ações
em que o educando interage com o professor e com o universo que o rodeia, ele
vai se construindo como pessoa, cidadadão e tomando posse de seu papel no
mundo.
Quando essas ações são
proporcionadas desde a primeira infância e no decorrer de toda a sua
formação; constrói-se um ser pensante,
que interpreta e produz linguagem.
Viver a experiência da
aprendizagem requer motivação, afetividade, troca de emoções. Quando o
professor sente e compreende as reações, opiniões dos alunos, a experiência
cresce e ambos crescem no relacionamento e no compromisso com a busca do conhecimento. Compreender as reações, a fala de alguém não
basta assim como não basta entender suas palavras, porque as palavras, as
frases que dizemos possuem sempre um subtexto, um pensamento oculto por detrás
delas, nem tampouco basta saber do seu pensamento; para compreender o outro é
necessário conhecer a sua motivação. Como afirma Vygotsky “ A comunicação
direta entre duas mentes é impossível, não só fisicamente como também
psicologicamente. A comunicação só pode ocorrer de forma indireta... A
compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem, só é possível quando entendemos
sua base afetiva, volutiva.”
Assim, muitas vezes em sala de
aula, o aluno manifesta ao professor algo,
por meio de palavras ou atos, que muitas vezes é o contrário daquilo que ele gostaria de
manifestar. Quando se tem este clima de abertura, de afetividade entre
professor e classe; o professor compreende a linguagem do aluno e o auxilia
para que ele próprio faça o contato consigo mesmo e compreenda o porquê daquela
reação. Não é um caminho fácil, requer disponibilidade
e humildade de ambas as partes, mas uma vez conquistado este entrosamento,
ambos crescem em conhecimento e sabedoria. Conquista-se a confiança e a amizade
de seus destinatários e assim interagem em um ambiente de alegria e busca.
Hoje o imaginário de nossos
alunos é muita vezes povoado de pensamentos e atitudes de violência, de
prazer passageiro, de relações efêmeras
e valores materiais e virtuais; cabe , assim, ao professor, que também sofre as
influências dessa cultura massificada, ousar vencê-las, ter as chaves que
possibilitam a abertura para outras possibilidades de crescimento, com
propostas enraizadas em valores humanitários, justos que busquem uma sociedade
digna para todos.
Para finalizar, outra
contribuição emerge ainda das análises dos trabalhos de Vygotsky “a criança não
é um adulto incompleto, não é um pedaço inacabado de uma sequência de etapas.
Ela é sujeito social e histórico hoje, desenvolvendo-se sim, mas alguém real,
cidadã, pessoa, gente. Por outro lado, o adulto, o professor que com ela
trabalha – não é um ser estático, que já evoluiu e hoje está completo. Ele se
constrói, cresce, muda.” Neste contexto, ambos , em parceria, podem contribuir
para o crescimento do outro e da sociedade em que vivem.
Referências
KRAMER,
Sonia. Por entre as pedras: Arma e Sonho
na escola – São Paulo: Ática, 1993.
TAILLE,
Yves de La, OLIVEIRA, Marta Kohl de, DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias
psicogenéticas em discussão - São Paulo: Summus editora, 1992.
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