quarta-feira, 18 de setembro de 2013

PROPOSTA DE ATIVIDADES


Proposta de atividade: Quando escrever vem após uma experiência de “encantamento”....

         Esta atividade tem como objetivo sensibilizar, encantar por meio da poesia e a partir do lúdico,  criar situações de produção de outros textos e poemas.  


O Menino que Carregava Água na Peneira

                                                                        Manoel de Barros

Tenho um livro sobre águas e meninos.

Gostei mais de um menino

que carregava água na peneira.


A mãe disse que carregar água na peneira

era o mesmo que roubar um vento e

sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.


A mãe disse que era o mesmo

que catar espinhos na água.

O mesmo que criar peixes no bolso.


O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces

de uma casa sobre orvalhos.


A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio, do que do cheio.

Falava que vazios são maiores e até infinitos.


Com o tempo aquele menino

que era cismado e esquisito,

porque gostava de carregar água na peneira.


Com o tempo descobriu que

escrever seria o mesmo

que carregar água na peneira.


No escrever o menino viu

que era capaz de ser noviça,

monge ou mendigo ao mesmo tempo.


O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer peraltagens.


Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor.


A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!

Você vai carregar água na peneira a vida toda.


Você vai encher os vazios

com as suas peraltagens,

e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
Manoel de Barros  Exercícios de ser criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999.


            Aproveito, a partir deste poema de Manoel de Barros, um poeta mato-grossense, que até hoje ainda brinca com as palavras, para introduzir uma atividade de “encanto”.

            Esta atividade pode ser desenvolvida com crianças de todas as idades, dos pequenos, em fase de descobrimento, aos adolescentes, que se escondem dos seus sentimentos e até dos adultos que adormeceram o deslumbramento com as manifestações mais simples.

            Proponho que o professor apresente o poema para os alunos com simplicidade, uma leitura ( antigamente dizíamos declamar guiado pela alma e com o som do coração) pausada.

            Quem sabe após a leitura, ainda sem o texto na mão, num exercício de escuta, apresentar o vídeo com a contadora de histórias Andi Rubenstein que interpreta o conto “O menino que carregava água na peneira:


            Só então , depois de discorrer pelo som das palavras, apresentar para eles o poema “ O menino que carregava água na peneira” e com o texto na mão ( interessante também apresentá-lo no livro impresso para que tenham acesso à ilustração) ler com eles, uma leitura corrida, porém carregada de interpretação.

            Como sequência, é interessante que o professor  leia novamente o poema por partes, levantando questionamentos ou “ sentimentos”  de acordo com a faixa etária . eis alguns:

·         Como se carrega água na peneira?

·         Onde e quando podemos carregar água na peneira?

·         O que são despropósitos?

·         Quais os seus despropósitos? Aqueles que acontecem na sua imaginação?

·         O menino gostava mais do vazio do que o cheio? E você?

·         Já experimentou o vazio e preenchê-lo com despropósitos?

·         Por que escrever é o mesmo que carregar água na peneira?

·         Por meio das palavras ligadas à imaginação podemos até carregar água na peneira e fazer da pedra brotar uma flor. Você concorda com isso?

·         Escreva algumas peraltagens que você pode fazer com as palavras.

·         É bom saber que podemos carregar água na peneira e outras peraltagens e por meio dessas ações e escrita fazer o bem?

·         O bem primeiro será para quem fizer esta experiência.

            Outros tantos caminhos suscitarão ao se fazer a leitura.

            Que tal, para finalizar a atividade, propor que escrevam o seu poema ou o texto em prosa em que possam deixar a imaginação soltar, os sentimentos fluir e tantos despropósitos surgirem e assim,  as palavras se unirem em peraltagens que fazem bem!

            Junto do texto escrito, arrisque uma ilustração... sempre é bom brincar com os traços e as cores.

            Caso queira ousar mais, peça que desenvolvam a atividade no computador, utilizando-se dos recursos gráficos que esta tecnologia proporciona.

Observação: Já fiz por diversas vezes essa experiência e é encantador o retorno, para mim, professor e para eles que vivenciam o encontro com a palavra e a palavra escrita.

Referência bibliográfica:

BARROS, Manoel de. Exercícios de ser criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999.

MAIA, Mara Jane Sousa. As Estratégias de enunciação no universo infantil de Manoel de Barros no conto “O Menino que carregava água na peneira”.disponível em: http://www.fflch.usp.br/dl/xienapol/anais/MARA_Maia.pdf  acessado em 18/09/2013.

 Vídeo enviado por Estadão em 24/01/2013. A contadora de histórias Andi Rubenstein interpreta conto “O menino que carregava água na peneira do escritor Manoel de Barros. http://www.youtube.com/watch?v=EhH7L8j5Lls  acessado em 18/09/2013.

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